sábado, 7 de agosto de 2010

Alguma beleza



Manifestei bondade fora das entrelinhas ao vê-lo, no desejo de que assim ficássemos com certa soberania sob os despojos e nos perdoássemos como se acreditássemos ainda em perdão como chave de algum segredo.

Submetemo-nos a confissões inventadas então, pois o momento era de luxo.
Deitamos nas almofadas, lado a lado, mãos no quase se tocar, deixando
espaço para alguma dormência de insignificância.

Não falamos nada que pudesse ser compreendido por decodificadores, nossa natureza numa caixa de bombons aberta nos mastigando no aroma de chocolate.

Em certo momento viramos as cabeças nos olhando e apertamos o nariz um do outro rindo feito crianças escorregando num chão de peixes, lambuzados de maresia sem cansaço de areia.

Manifestou bondade buscando minha orelha como se fosse anzol, ficando ali pendurado e debatendo-se .

"teria virado um vermelho?" perguntou ao que pensei. "pescamos uma rede!" respondi ao que pensou.

Nadadeiras estendidas até o abajour, resíduo de antigos vendedores de ferro-velho anunciando no portão de casa que ainda é tão cedo que dá tempo de sermos capturados.

E fomos.
..

Um comentário:

  1. Vc ainda fala dessas coisas alinhavadas no futuro...
    escritora única!

    Lembra Arnaldo Antunes: 'tem saudades do passado, Arnaldo?' (pausa curta) 'tenho saudade é do futuro!'

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